terça-feira, 9 de outubro de 2007

Quando crescer de vez
Por dentro
Tenham pena de mim
Não cabe este sentimento
Cá dentro
Todo inteiro.

Rebento!

Estoiro em mil bocados
Voando por todos os lados
Em todos os sentidos
Despedaçados!

Quando cair outra vez
Não farei mossa
Cairei suave como uma onça
Em mil bocados
Encadeados
Na terra que me fará crescer outra vez
De vez!
Não tenham pena de mim!
Quando crescer
Fá-lo-ei devagar
A pouco e pouco
Em movimento
Lento, lento.
Para apreciar, saborear
Devagar este momento/movimento
Lento de grua a crescer

No ar

Devagar, devagar

Sonolento
Até parar.
Todas as noites eu morro!
Aliás morro ao crepúsculo.
Ainda não é noite
É assim, assim

E como dentro de mim
Amanhece rápidamente
Acontece que a minha morte
É breve, não se sente,
Como um piscar de olhos,
De repente,
E tudo fica assim
Pendente!

Nesta morte aparente
O meu corpo desprende-se
E paira lá no alto
Aparentemente descrente.

Desprende-se

E eu deste lado
Desprendidamente crente
Sorrio,...
Aparentemente!

Do significado das palavras

Sempre acreditei no valor e na beleza das palavras. No entanto, acontece repetirem-se até ao instante em que já não significam nada. São só um conjunto de caracteres com um som convencionado. Quando nos apercebemos que não fazem sentido, tudo soa estranho à nossa volta.Gostava de poder viver num mundo de palavras com significado. Ou num mundo silencioso, só com olhares e gestos. Os olhares não se gastam. Os gestos valem por si. Não são símbolos que, quando isentos do sentimento original, nos confundem ou, pior, nos fazem sentir vazios de emoções.Convoco muitas vezes o silêncio. É a minha defesa sempre que oiço palavras que já não trazem consigo o significado que um dia tiveram. Mas que se repetem. E repetem… até que tudo o que se vai (des)construindo em mim me obriga a articular os sons que , por convenção, damos aos caracteres que formam a palavra “Basta!”.
(De uma mulher entre os 50 e os 60)